Canais de Comercialização
No que concerne à comercialização, existe um amplo conjunto de produtos e
subprodutos da ranicultura com potencial econômico, envolvendo animais vivos
e/ou abatidos. É pratica comum entre os ranicultores o fornecimento mútuo de
girinos e imagos para a respectiva cria e recria, havendo contudo uma tendência
à especialização. Em breve, a reprodução (para obtenção das desovas) e criação
de girinos ficarão restritas aos grandes ranários, que fornecerão os imagos
para ranicultores que possuirão apenas as instalações de recria (recriadores). A rã viva tem sido exportada para os Estados Unidos, onde os restaurantes especializados na cozinha oriental absorvem grande quantidade do produto. Além disso existe demanda de animais vivos para estudos e experiências laboratoriais, e para compor o plantel de reprodutores de novos criatórios.
O principal produto da atividade é a carne de rã, que é comercializada fresca, congelada ou processada, cujo excelente sabor e qualidades nutricionais, tem propiciado crescimento considerável do seu consumo, não obstante às restrições de preço. A coxa é a parte de maior aceitação, embora no Brasil esta preferencia não seja tão acentuada como no mercado internacional, onde praticamente não se consome o restante da carcaça.
A distribuição da produção se faz conforme esquematizado na Figura 1. O ranário completo possui basicamente três produtos: girinos, imagos e rãs. Os dois primeiros são vendidos a outros ranicultores que darão continuidade ao processo produtivo. As rãs são entregues aos abatedouros (industria de abate) que por sua vez, fornecem a carne aos varejistas que as venderão ao consumidor final. Certamente este procedimento pode ser alterado quando o fornecimento se faz diretamente ao consumidor ou ao varejista, ou mesmo do abatedouro para o consumidor, conforme ilustram as setas pontilhadas.
FIGURA – 1:
Canais de comercialização da ranicultura de acordo com LIMA & CRUZ,
O fornecimento direto do produtor ao consumidor é explicado pela tentativa
de se evitar a intermediação freqüentemente prejudicial ao produtor. No
entanto, as condições inadequadas de abate, comprometendo a qualidade do
produto, e o desvio da atenção do ranicultor para outras tarefas tem, via de
regra, levado esta tentativa ao fracasso. O problema da intermediação tem sido
superado via associação de produtores para constituir sua própria unidade de
processamento e comercialização.
Condições do Mercado
Estudos realizados sobre o mercado interno da carne de rã demonstraram
existir, no Brasil, por demanda expontânea, um mercado potencial cerca de três
vezes superior à oferta. Um dos fatores limitantes desse mercado é o preço que
o produto tem chegado aos pontos de venda. Atualmente, a carne de rã é
encontrada no varejo, a preços que oscilam entre 15 e 25 reais o quilo. A nível
do produtor, a rã tem sido comercializada a preços que variam de 4,50 a 5,0
reais por quilo de rã viva, o que eqüivale ao valor de 9 a 10 reais para cada
quilo de carne. Provavelmente, a curto prazo estes preços retornarão aos
valores históricos praticados antes do plano real quando o preço médio
eqüivalia a 6,00 dólares. Esta tendência de queda se deve ao aumento da oferta
e aos efeitos da recente crise econômica promovida pela especulação financeira.
No mercado internacional, que tradicionalmente é abastecido pelo extrativismo, países que permitem a caça, fornecem à Europa e à América do Norte, o quilo de coxa de rã ao preço de 6 a 8 dólares. O caráter predatório da captura naqueles países têm provocado reação dos movimentos ambientalistas. Existem perspectivas de que, em breve, hajam restrições às importações deste produto por parte dos países consumidores.
Esse cenário coloca o Brasil em posição favorável, uma vez que, é detentor de tecnologia avançada de produção de rãs em cativeiro, além de possuir condições climáticas favoráveis em grande parte de seu território. Ressalta-se contudo que, vários países têm realizado investimentos na ranicultura, indicando que estarão competindo pelo mercado Europeu e Norte Americano, quando a proibição de produtos oriundo da caça se efetivar. Terá sucesso aquele que além da qualidade apresentar preço competitivo.
Mercado
Nacional
Praticamente toda a
produção brasileira é absorvida pelo mercado interno, mas o Brasil possui
condições de conquistar grande espaço no mercado externo. Atualmente o consumo
no Brasil situa-se em torno de 400 toneladas/ano, segundo a Associação
Brasileira de Ranicultura e conta com aproximadamente 600 ranários implantados,
15 indústrias de abate e processamento, 6 associações estaduais de ranicultores
e 4 cooperativas. Quanto aos subprodutos podemos dizer que praticamente o
ranicultor ganha dinheiro hoje apenas com a venda da carne. As vísceras e a
pele são quase que em sua totalidade descartadas. Existe tecnologia para
curtimento da pele, mas não há indústria que faça isso em escala comercial.
Mercado
Internacional
O preço dos produtos
oriundos da Ranicultura, no mercado internacional, é bastante variável em
função de diversos fatores, entre os quais merecem destaque o tamanho do
produto, a época do ano e a sua origem. Os originários da criação em cativeiro,
geralmente têm preço mais elevado, em razão de seus próprios custos de produção
e também por possuírem maior qualidade e regularidade na oferta.
Boa parte das 10 mil
toneladas de carne de rã que circulam anualmente no mercado internacional é
fornecida por países asiáticos, principalmente a Indonésia. Nesses países, os
animais levados ao abate não vêm de criações mas são caçados na natureza. Essa
diferença em relação ao produto brasileiro, totalmente originário da criação em
cativeiro, é uma das razões da boa aceitação das rãs que exportamos para a
Europa, onde estão os maiores compradores.
O preço, por quilo,
de coxas de rã importadas pela Comunidade Européia, no período de 97/98 variou
entre 2.33 e 6.2 euros, alcançando um valor médio de 4.1 euros. Nos EUA, onde a
preferência por coxas grandes é notória, o preço médio de suas importações em
1997 foi da ordem de US$6.37 /kg. Nesse mesmo período, o Canadá pagou US$3.87
/kg em média.
Biologia da rã-touro
A rã touro pertence à
classe Amphíbia (do grego amphi=duas, bias=vida), cujo nome indica a maioria
das espécies que vivem parcialmente na água doce e parcialmente na terra.
A rã-touro, como a
maioria dos anfíbios, acasala-se na água, onde seus ovos são depositados e onde
as larvas, denominadas girinos, vivem e crescem até se metamorfosearem em rãs
jovens.
Somente os machos
coaxam (embora as fêmeas também emitem sons) e o som do coaxar se assemelha ao
mugido de um boi, daí a origem do nome rã-touro (em inglês bullfrog).
- Acasalamento: o
macho entra na água e começa a coaxar atraindo a fêmea, abraçado-a pelas costas
e fazendo com que ela elimine os óvulos enquanto ele descarrega o esperma.
Ocorre assim a fecundação, externamente, na água. Os ovos apresentam coloração
escura, formato esférico e são envolvidos por uma camada gelatinosa que em
contato com a água aumenta de volume, sendo que o conjunto dos ovos - desova -
adquire um aspecto de lençol gelatinoso flutuante.
Logo após a
fertilização inicia-se o desenvolvimento embrionário, caracterizado por uma
série de estágios cujo número pode variar conforme as diferentes tabelas
elaboradas por diversos autores. No caso da tabela elaborada em 1960 pelo
pesquisador K. L. Gosner, esse período abrange 25 estágios, da fecundação até o
estágio de girino.
No estágio de girino,
estes animais apresentam um crescimento extraordinário e em seguida inicia-se o
processo de metamorfose, com o desenvolvimento dos membros posteriores seguidos
dos anteriores e finalizando com a absorção da cauda, resultando naquilo que em
ranicultura denominamos da imago ou rã recém metamorfoseada.
Nos estágios finais
da metamorfose quando os girinos já apresentam os quatro membros, porém ainda
possuem a cauda, a tendência deles é ficarem em locais mais rasos, onde possam
se apoiar e permanecer com as narinas fora da água para respirar, pois e
respiração que era branquial, passa a ser pulmonar.
As imagos são como
miniaturas de rãs adultas, isto é, apresentam o mesmo aspecto que estas, sendo
que o seu peso varia de 4 a 10 gramas. As rãs não possuem órgãos sexuais
externos que permitam a distinção entre machos e fêmeas, porém ao atingirem o
estágio adulto apresentam dimorfismo sexual bem evidente, podendo o sexo ser
distinguido através da observação das características apontadas no quadro
abaixo:
Características
Machos Fêmeas
Diâmetro da membrana
Maior que o diâmetro Quase igual ao diâmetro
Timpânica do globo
ocular do globo ocular
Coloração do papo
Amarela Creme esbranquiçada
Coaxado nupcial Sim
Não
A duração do período
de ovo a imago (Ciclo: ovo-girino-imago-rã), em águas com temperatura média
variando entre 25ºC a 28ºC, é de 2,5 a 3 meses.
A duração do período
de imago até rã, com peso para abate (160 a 170 gramas), varia em função de
vários fatores, principalmente temperatura e alimentação, podendo ser de 3,5 a
14,0 meses quando as rãs são criadas sob uma temperatura média de 30ºC a 35ºC e
alimentadas com ração com teor protéico de 46% (ração para trutas).
O período natural de
reprodução desta espécie, para as condições climáticas do Estado de São Paulo,
estende-se do início de setembro até meados ou final de fevereiro. A quantidade
de óvulos por postura varia de acordo com o peso e idade dos animais. Com cerca
de um ano e peso de 150 a 200 gramas, a rã-touro já está apta a reprodução,
podendo produzir de 3000 a 5000 óvulos. Na bibliografia especializada
encontramos citações afirmando que a produção de óvulos pode chegar até 20000,
com os animais pesando entre 400 a 650 gramas.
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